sexta-feira, 23 de abril de 2010

Células-tronco


Uma célula-tronco é basicamente o alicerce do corpo humano. São células não diferenciadas, portanto, não especializadas que se renovam por meio de divisão celular; e por meio de certas condições fisiológicas e experimentais, podem ser induzidas a se tornarem células especializadas. As células-tronco de um embrião irão crescer dentro de cada célula, órgão e tecido que formarão o feto. Elas têm também a capacidade de auto-renovação, ou seja, podem se reproduzir diversas vezes.

Estas células podem ser classificadas em:

  • Totipotentes, aquelas que contêm a informação genética necessária para criar todas as células do corpo e a placenta, responsável também por nutrir o embrião, sendo encontradas no embrião nas primeiras fases de divisão, ou seja, quando o embrião tem de dezesseis a trinta e duas células, correspondentes a três ou quatro dias de vida;
  • Pluripotentes ou multipotentes, as quais podem originar todos os tipos de células, com exceção a placenta e os anexos embrionários (vesícula vitelina, âmnio, cório e alantóide), sendo encontradas no embrião quando este tem de trinta e duas a sessenta e quatro células, correspondente ao quinto dia de vida. Tais células formam a camada interna do blastocisto, já que as células da membrana externa destinam-se a produção de placenta e membranas embrionárias;
  • Oligopotentes, células-tronco adultas que podem originar mais de um tipo de tecido;
  • Unipotentes, células-tronco adultas que dão origem a um único tipo de tecido. Sua provável função é a reparação dos determinados tecidos, já na medula óssea dessas células é manter o nível de elementos figurados do sangue que necessitam de constante substituição.

Há dois tipos de células-tronco: adultas, as quais são extraídas dos diversos tecidos humanos, como: medula óssea, sangue, fígado, cordão umbilical, placenta etc, e têm capacidade de diferenciação limitada, não originando boa parte dos tecidos; e embrionárias, que somente são encontradas nos embriões humanos e são classificadas em totipotentes e pluripotentes, portanto, têm alto poder de diferenciação.

Novos estudos sugerem que as células-tronco adultas podem ter também o potencial de gerar outros tipos celulares. Toma-se como exemplo as células hepáticas, que podem ser atraídas a produzir insulina, hormônio normalmente produzido pelo pâncreas. Esta capacidade tem o nome de plasticidade ou transdiferenciação.

Observação: as células do cordão umbilical e da placenta são consideradas adultas devido à sua limitação de diferenciação.

Como as células-tronco podem ser obtidas?













Elas podem ser obtidas através de embriões, descartados e congelados, que são inviáveis para implantação e doados por clínicas de fertilização; clonagem terapêutica, técnica que funde uma célula de um paciente que necessita de terapia com células-tronco com um óvulo doador, que terá seu núcleo removido e substituído pelo núcleo da célula do paciente, e mais tarde este ovo será estimulado a se dividir e o embrião resultante carregará o material genético do paciente, o que reduz os riscos de rejeição das células-tronco pelo seu corpo; e do corpo humano, a partir de alguns tecidos do corpo, como a medula óssea e o epitélio.

Cultivo de células-tronco




















Os cientistas removem as células-tronco da camada interna do blastocisto, uma massa de aproximadamente 100 células, e as cultivam em uma placa de Petri, com uma rica solução de nutrientes, no laboratório. Essas células se duplicam diversas vezes e o ambiente de cultura torna-se pequeno, sendo necessária a remoção das células dessa placa e posterior colocação em várias outras placas. Após alguns meses, milhões de células-tronco são originadas, e aquelas cultivadas sem diferenciação são as chamadas células-tronco linha, que podem ser congeladas e dividas entre laboratórios.
Já as células-tronco adultas são mais difíceis de se trabalhar, devido a maior dificuldade na sua extração e cultivo.

Pesquisas com células-tronco

















As células-tronco ainda não estão sendo utilizadas para tratar doenças no Brasil (os cientistas ainda estão no processo de pesquisa), pois os cientistas não sabem como fazer uma célula-tronco se diferenciar em um determinado tecido ou célula e controlar a sua diferenciação quando as células são injetadas em um paciente.

A diferenciação dessa célula, na natureza, depende de fatores externos e internos a ela. Os fatores internos são os genes dentro de cada célula, que ditam como ela deve funcionar. Os fatores externos à célula são liberados quimicamente por outras células ou pelo contato com estas, fazendo com que a célula mude a sua maneira de funcionar.

Ainda há o problema da rejeição, em que o paciente que teve injetadas células-tronco de um embrião doado, pode acontecer que seu sistema imunológico veja essas células como invasores e lancem ataques contra elas. A solução para isso seria injetar células-tronco adultas do próprio paciente, porém estas são menos flexíveis quanto à diferenciação e mais difíceis de manusear em laboratório.

As vantagens quanto à utilização das células-tronco é que as pluripotentes podem ser utilizadas para testar a segurança e efeito de novos medicamentos; podem também ser usadas para a reparação de células e tecidos danificados por ferimento ou doença, como injetar células-tronco embrionárias no coração para reparar as células danificadas por um ataque cardíaco, por exemplo.

O ator Christopher Reeve, famoso por sua atuação em super-homem, foi um dos principais defensores das pesquisas com células-tronco embrionárias, usando três pontos para defendê-las.

  1. A pesquisa com células-tronco pode levar ao desenvolvimento de substitutos invasores ou terapias de transplantes para pacientes com desordens como rompimento da medula espinhal, diabetes, doenças do coração e mal de Parkinson;
  2. A pesquisa com células-tronco embrionárias humanas pode oferecer uma compreensão mais profunda sobre como os organismos, incluindo os seres humanos, se desenvolvem, possibilitando aos cientistas elucidar melhores formas de o corpo se auto-reparar;
  3. Células-tronco embrionárias podem ser usadas para testar medicamentos.

Igreja x Pesquisa com células-tronco embrionárias

Hoje as pesquisas com células-tronco se tornaram uma das maiores discussões entre as comunidades religiosa se científicas em todo o mundo, tendo como base a seguinte pergunta: quando começa a vida? Para a obtenção de células-tronco embrionárias, os cientistas usam um embrião já concebido ou clonam o embrião usando uma célula do corpo do paciente e um óvulo doado. Para a coleta dessas células do embrião é necessária a destruição do mesmo.

A Bioética é uma área de atuação interdisciplinar, responsável pela avaliação das aplicações éticas e morais acerca das ciências da vida, sendo uma proposta para assegurar que o progresso científico contribua com o progresso social, buscando identificar meios de intervenção nas pesquisas científicas quando consideradas impactantes na vida do ser humano.

No patamar jurídico e no âmbito nacional, o art. 2° do Código Civil Brasileiro define “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção”. Tendo como base este enunciado, podem-se destacar duas correntes: corrente natalista, que acredita que a personalidade civil começa no momento do nascimento; e a corrente concepcionista, que entende que a lei deve ser aplicada ao indivíduo no momento da sua concepção.

O Padre Vando Valentini, Coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC/SP, é adepto da corrente concepcionista. Em artigo disponível no site do Projeto Gente afirma que: “… a ciência também tem de respeitar os direitos do homem. Não se trata, aqui, de defender a vida a partir de argumentos de fé. Trata-se de usar a razão para defender o valor absoluto de cada pessoa humana”.E complementa: “Seja como for, por que a Igreja é contrária à utilização de células embrionárias? Porque o embrião é um ser humano em sentido pleno. Não se pode usar a vida de um homem para tratar a vida de um outro. Qualquer ser humano, rico ou pobre, jovem ou velho, de qualquer raça, tem um valor absoluto. O problema, então, é reconhecer que o embrião já é um ser humano. Quem define quando é que a vida começa? Pela própria ciência se pode chegar a uma conclusão clara: quando o espermatozóide se une ao óvulo, nasce o embrião em sua primeira fase. O embrião, nesse momento, já está completo. Contém em si todas as informações necessárias ao novo ser humano. O que falta é apenas o tempo e a alimentação da vida para que chegue a seu pleno desenvolvimento”.

Em contraponto, encontra-se Marco Segre, professor do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da USP, membro da Conep, CoBi e presidente da Sociedade de Bioética de São Paulo, defensor da corrente natalista, que em seu artigo afirma: “... Poder-se-á objetar que a ‘produção’ de seres humanos, ainda que para fins terapêuticos, é uma violência contra um dos inestimáveis valores de nossa cultura: a vida. Mas o que significa ‘fazer violência’ à vida quando pensamos em toda a história da medicina, da saúde pública, da educação e, de forma mais geral, em toda a história da cultura e da técnica humanas? Não deveríamos pensar no ser humano como um ser que transforma a realidade em realidade para si, adaptando-se a seus desejos e projetos, pois isso faz parte de sua segunda natureza que transforma a primeira natureza constituída por sua biologia?” Ainda afirma também: “ Ademais, havendo vida, a partir de que momento e/ou sob quais condições consideramos a existência de um sujeito, a quem atribuiremos direitos? Tendo em conta a legitimidade prima facie de construirmos nosso futuro e desestigmatizando sentimentos morais incrustados em nossa cultura, não poderíamos pensar na construção de clones sem estruturas nervosas (que não podem, portanto, sofrer, evitando assim eventuais objeções sencientocêntricas) que, por semelhança, compararíamos a corpos em estado de morte encefálica, e que certamente não consideramos pessoas e sim ‘banco de órgãos’?”

Hoje, esta polêmica é vivida em boa parte do mundo, como Estados Unidos, que teve vetado o uso de verbas federais para pesquisas cientificas com células-tronco embrionárias por seu então presidente George W. Bush, em 2006; e a Itália, sede do Vaticano, que sofre grande influência da Igreja Católica nas decisões do governo, tendo proibido qualquer tipo de pesquisa com células-tronco embrionárias humanas e também a sua importação. Já no Reino Unido, a legislação permite até mesmo a clonagem terapêutica. Mas em países asiáticos, como Coréia do Sul, Japão, China e Cingapura, e em países como África do Sul e Rússia, a pesquisa com embriões é totalmente liberada.

Células-tronco no Brasil


Em 29 de maio de 2008, o Supremo Tribunal Federal aprovou as pesquisas com células-tronco embrionárias no Brasil.
A lei de Biossegurança, em seu artigo 5º, libera a pesquisa com células-tronco de embriões obtidos por fertilização in vitro e congelados a mais de três anos, no país. Esses embriões são descartados após quatro anos de congelamento, porém os pais devem autorizar o uso destes para efeito de pesquisas. Antes da aprovação das pesquisas com células-tronco embrionárias, os cientistas brasileiros precisavam importar exemplares para a realização de estudos básicos com esse tipo de células. E muitas vezes esses embriões que eram doados por Universidades ou laboratórios chegavam a apodrecer nas barreiras alfandegárias antes mesmo de chegar aos laboratórios brasileiros.
De acordo com a atual lei de Biossegurança, apenas os embriões inviáveis para implatação, ou seja, que na fertilização in vitro não são introduzidos no útero da mulher por não terem qualidade ou por terem mutações responsáveis por doenças genéticas, é que podem ser utilizados para fim de pesquisa. Segundo Mayanna Zatz, professora de Genética Humana e Medicina do Departamento de Biologia, Instituto de Biociências da Universidade São Paulo, "A proposta é usar os embriões que sobram nas clínicas de fertilização e vão para o lixo. São os embriões mal formados que não teriam capacidade de gerar uma vida se fossem implantados no útero".
Além disso, essa lei não dá autonomia às pesquisas aos institutos de pesquisa e serviços de saúde, fazendo necessário que esses submetam seus trabalhos para análise e aprovação de comitês de ética em pesquisa. Se essas pesquisas se mostrarem contrárias ao que é considerado ética de pesquisa, elas não são realizadas.

Bibliografia

1. http://www.ghente.org/temas/células-tronco/index.htm . Acesso em 09 de Abril de 2010
2. http://www.ghente.org/temas/células-tronco/artigos_helena.htm . Acesso em 09 de Abril de 2010
3. http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/artigos_padre.htm . Acesso em 09 de Abril de 2010
4. http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/artigos_helena_v_congresso.htm . Acesso em 09 de Abril de 2010
5. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
6. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco1.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
7. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco2.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
8. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco3.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
9. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco4.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
10. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco5.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
11. http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco6.htm . Acesso em 13 de Abril de 2010
12. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000200017&script=sci_arttext . Acesso em 15 de Abril de 2010